segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Reflexões sobre o dia da Consciência Negra e Educação antirracista

 

Você já parou para refletir sobre os desafios que o racismo apresenta, considerando a complexidade histórica, social e cultural que o envolve? Como você percebe a importância do dia da Consciência Negra além de uma simples celebração, destacando estratégias para a inclusão social das pessoas negras? Qual a sua opinião sobre o papel da educação antirracista, sobretudo no contexto escolar, e como ela pode contribuir para a transformação da narrativa histórica?

Apresentamos aqui algumas contribuições para que emerja um processo de reflexão sobre a importância do dia da Consciência Negra e a essencialidade da educação antirracista no contexto escolar.

 

 

O racismo e suas estruturas


Tecemos algumas considerações sobre a ideologia racista, cientes da complexidade histórica, social e cultural que a permeia, especialmente no que diz respeito ao apagamento e à invisibilidade das pessoas negras. Nosso objetivo é instigar uma reflexão, reconhecendo que o tema é vasto e não pode ser completamente esgotado aqui.

Partindo das pesquisas de Fátima Oliveira (2001) em seu livro Saúde da população negra: Brasil, observamos que os fundamentos da eugenia, baseados na relação entre classe e inteligência, e na existência da raça como categoria biológica, definia as pessoas negras como inferiores, condenava a miscigenação e proclamava a superioridade intelectual dos brancos. Embora saibamos que a concepção biológica de raça não tem fundamentação científica, ela sustentou uma ideologia racista cujas repercussões ainda persistem em nossos sistemas estruturais.

Nisso, a branquitude, entendida como a construção histórico-social da superioridade atribuída aos brancos, continua a prevalecer nas principais estruturas de nossa sociedade, enquanto os povos negros enfrentam desafios sociais em um processo de subalternidade, opressão, exclusão e violência. Como esse tratamento de inferioridade não foi conferido aos não negros, é crucial destacar que o termo "racismo reverso" não se aplica, uma vez que, historicamente, a categoria biológica de raça foi forjada para imprimir as mazelas sociais nas pessoas negras e reivindicar uma suposta superioridade intelectual dos brancos.

Portanto, podemos afirmar que as experiências nas sociedades são racializadas, uma vez que o racismo se configura como um sistema de opressão e exclusão social presente nas estruturas históricas, sociais e culturais. Essa compreensão é fundamental para promover uma análise crítica das dinâmicas sociais e buscar caminhos para a construção de sociedades mais justas e igualitárias.

 

Por que dia da Consciência Negra?

“[...] não veio do céu, nem das mãos de Isabel, a liberdade é um dragão no mar de Aracati” (Samba da Mangueira, 2019).

 

Em 1971, o Grupo Palmares, formado por jovens negros, contestou a celebração dos povos negros no dia treze de maio, argumentando que essa data marca um acordo político que não contemplou condições dignas de sobrevivência para as pessoas negras na sociedade. Propuseram, em vez disso, o dia da morte de Zumbi dos Palmares como a celebração do Dia da Consciência Negra, destacando-o como símbolo de resistência.

Entrevistado pela TV Senado em 2021, Antônio Carlos Côrtes, fundador do Grupo Palmares, enfatizou que a importância não está apenas no feriado em si, mas na reflexão e na busca por reparação da dívida que o Brasil, como nação, tem com a comunidade negra. As políticas afirmativas são reconhecidas como uma reparação limitada, visto que, apesar de constituírem a maioria da população brasileira, as pessoas negras enfrentam sub-representações em diversas esferas, desde órgãos governamentais até o setor empresarial. Côrtes enfatiza que a luta pela igualdade começa agora.

O dia da Consciência Negra reforça a lembrança de Zumbi dos Palmares como um símbolo de resistência, buscando promover ações de resistência e combate ao racismo estrutural.

A luta quebrou as correntes e, como expresso no samba da Mangueira (2019), "é na luta que a gente se encontra." Este pensamento ressalta a importância contínua das mobilizações contra a discriminação racial para que um caminho mais inclusivo e equitativo para todos seja trilhado.

 

E no ambiente escolar, o que fazer?

 

“[...] versos que o livro apagou; desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento, tem sangue retinto pisado, atrás do herói emoldurado” (SAMBA DA MANGUEIRA, 2019).

 

As Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 abriram caminhos para uma revolução educacional no Brasil ao incluírem no currículo, a História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional. O artigo 26-A da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) estabeleceu a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, públicos e privados.

Do estudo da história da África à luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, passando pela riqueza da cultura negra e indígena brasileira, o professor desempenha um papel fundamental na ressignificação da narrativa nacional.

Temos muitos desafios, mas, como afirmado pelo Samba da Mangueira em 2019, é hora de "tirar a poeira dos porões e mostrar um país que não está no retrato".

Assim, na construção do conhecimento, o professor poderá conduzir os estudantes por trilhas antes desconhecidas, promovendo a conscientização e contribuindo para a inclusão social e representatividade.

 

Para refletir: Nesse contexto, o que você, professor, tem feito para conduzir os estudantes em trilhas representativas, a partir de uma educação antirracista?

 

Texto: Barbara Nunes, pedagoga, doutoranda no Programa de Pós-Graduação Ciência, Tecnologia e Educação do Cefet/RJ e pesquisadora do Labdec.

Imagens: Pixabay

 

Referências/Fontes:

 

OLIVEIRA, Fátima. Saúde da população negra: Brasil ano 2001 / Fátima Oliveira − Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2003. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/0081_saude_popnegra.pdf

 

Agência Senado

 

Samba da Mangueira. História Para Ninar Gente Grande. 2019. Autores: Tomaz Miranda, Deivid Domênico, Danilo Firmino, Silvio Mama, Ronie Oliveira e Márcio Bola.

 

Outros recursos

 

Você pode baixar uma cartilha sobre educação antirracista no site Escola de Elisas, https://www.escoladeelisas.com.br/educacao

Escola de Elisas é um projeto desenvolvido pelo laboratório de inovação Das Pretas, em parceria com a Nivea, com o objetivo de promover uma educação antirracista.

O projeto oferece outras ações formativas. Que tal acessá-lo, também, no Instagram? https://www.instagram.com/escoladeelisas/

 

No ano de 2023, Como ser um educador antirracista, da autora Barbara Carine, foi o livro mais vendido em Política Educacional na Amazon. Pode ser adquirido no link: https://www.amazon.com.br/Como-ser-educador-antirracista-professores/dp/8542221257

Barbara Carine, além de autora, pesquisadora e professora universitária, também é influenciadora digital e, diariamente, posta conteúdos antirracistas. Seu Instagram pode ser acessado em https://www.instagram.com/uma_intelectual_diferentona/

 

Literaturas infanto-juvenis de autores negros podem contribuir para o empoderamento de crianças e jovens negros.

O Itaú Social disponibiliza algumas obras gratuitamente. Recomenda-se as obras:

A descoberta do Adriel; e As bonecas da Vó Maria, ambas da autora Mel Duarte. Links: https://www.euleioparaumacrianca.com.br/estante-digital/a-descoberta-do-adriel/

https://www.euleioparaumacrianca.com.br/historias/as-bonecas-da-vo-maria/

A Menina Das Estrelas, da autora Tulipa Ruiz.

Link: https://www.euleioparaumacrianca.com.br/estante-digital/a-menina-das-estrelas/

Sônia Rosa é uma escritora que se dedica ao protagonismo negro em seus livros. Enquanto o almoço não fica pronto é um deles. Pode ser adquirido no link: https://www.amazon.com.br/Enquanto-Almoco-Nao-Fica-Pronto/dp/6587209009

 

No YouTube, muitos vídeos sobre educação antirracista são disponibilizados. Vale a pena conferir. Acesse https://www.youtube.com/hashtag/educaçãoantirracista

Dentre eles, os dois vídeos a seguir apresentam atividades pedagógicas antirracistas. Imperdíveis!

https://www.youtube.com/watch?v=5uqgRoINXrg

https://www.youtube.com/watch?v=LjgA7YWbuh8

 


 

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