segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Você é o que come? Uma reflexão sobre segurança alimentar

Nestes dias finais de dezembro, cardápios para festas e encontros ganham destaque na vida e nas redes. Rabanadas, pernil, farofa, doces, saladas, tudo parece nos convidar a comer. Ao mesmo tempo, nos últimos meses, temos ouvido, nos noticiários, sobre a volta do Brasil ao chamado mapa da fome, com um alerta sobre a falta de segurança alimentar sobretudo para os habitantes do Norte e do Nordeste do país.


O que seria, então, segurança alimentar? Segundo o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, é a “realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais”. Essa realização tem, como base, “práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis”.


 Observamos alguns pontos em detalhes, começando por “alimentos de qualidade”. Ultraprocessados e agrotóxicos ganharam destaque e algumas isenções fiscais nos últimos anos. Em 2022, pela primeira vez, alimentar-se de ultraprocessados ficou mais barato na média do que comer produtos frescos. No caso dos agrotóxicos – utilizados em larga escala e trazendo danos ao ambiente, animais, ecossistemas e humanos –, o PL 1.459/2022, também conhecido como o “pacote do veneno”, foi aprovado pelo Senado em 28 de novembro. O projeto deixa brechas para regulamentar o uso de substâncias cancerígenas em nossas lavouras. Alimentos produzidos com estes ou outros agrotóxicos banidos em outros países seriam saudáveis? Como fica a qualidade da água nas regiões em que estes produtos são utilizados em larga escala? Se você é o que come, como você fica?

 

E se você não come?

Outro aspecto fundamental é a falta de acesso “regular e permanente” aos alimentos. Assistimos, em 2021, cenas impensáveis de pessoas em filas para conseguir ossos e, com eles, preparar algo para comer. De acordo com o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), no Brasil são 21 milhões de pessoas que não têm o que comer todos os dias e 70,3 milhões em insegurança alimentar. Ainda segundo o documento, temos 10 milhões de pessoas desnutridas. Somos de fato “o celeiro do mundo”?

Há exatos 30 anos, surgia, no Brasil, uma campanha de nome comprido e compreensão rápida: Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida. Liderada pelo sociólogo Herbert de Souza, a campanha tem, até os dias de hoje, um lema: “quem tem fome tem pressa”.


 Nossas reflexões e debates sobre o tema da segurança alimentar são muito importantes. Podemos e devemos trabalhar o assunto em sala de aula, em casa, com os amigos. Mas gestos de solidariedade fazem a diferença para as pessoas de quem falamos, estes 21 milhões de seres humanos que não têm acesso regular e permanente a qualquer tipo de alimento. Portanto, nosso “para refletir” de hoje é um convite para agir. Você já ajudou alguém a matar a fome hoje?

 

Texto: Fernanda Veneu

 

Nós, do Labdec, desejamos a você e sua família boas festas! Em janeiro estaremos de férias, mas voltaremos com as publicações do BlogDec em fevereiro. Até lá!


Fontes/Para saber mais:

Definição de segurança alimentar e nutricional: https://www.ipea.gov.br/participacao/images/pdfs/conferencias/Seguranca_Alimentar_II/textos_referencia_2_conferencia_seguranca_alimentar.pdf

https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/3090-alimentacao-saudavel-esta-cada-vez-mais-cara-e-distante-da-mesa-dos-brasileiros

https://www12.senado.leg.br/noticias/arquivos/2022/10/14/olheestados-diagramacao-v4-r01-1-14-09-2022.pdf

Guia alimentar da população brasileira:

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf

https://ojoioeotrigo.com.br/2022/09/os-ultraprocessados-tiram-onda-na-inflacao/

https://revistapesquisa.fapesp.br/o-peso-dos-ultraprocessados/

 

Live do Labdec sobre os agrotóxicos:

Muito além do seu prato: uma conversa sobre o uso de agrotóxicos no Brasil: https://www.youtube.com/watch?v=ckPncfXskCc&t=25s

https://contraosagrotoxicos.org/pacote-do-veneno-e-aprovado-no-senado/

 

Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida:

https://www.acaodacidadania.org.br/

 

Instagram:

@contraosagrotoxicos

@acaodacidania

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Será que você foi já capacitista?

 

Segundo o Censo Escolar de 2021 (Inep, 2022), o percentual de estudantes com deficiência, transtornos do espectro autista ou altas habilidades matriculados em classes regulares tem aumentado gradualmente na maioria das etapas de ensino. Trazer, para a sala de aula, pessoas com necessidades especiais requer mudanças de postura de professores, alunos e da própria escola. Neste mês, em que o dia Internacional da Pessoa com Deficiência (3/12) nos interpela, o Labdec vem perguntar: Será que você, professor(a), já foi capacitista?

Mas afinal o que é capacitismo? De acordo com Nuernberg (2020), o capacitismo é o processo que hierarquiza as variações funcionais e corporais existentes, privilegiando os que atendem aos padrões normativos e diminuindo os que não se encaixam neste padrão. Ou seja, os corpos e funcionamentos de pessoas sem deficiência são considerados superiores e usados para o julgamento dos demais, que são inferiorizados e ligados à ideia de fracasso como consequência de suas lesões ou impedimentos.

Existem expressões do vocabulário da língua portuguesa que utilizamos em sala de aula e não as percebemos como capacitistas (mas elas são!). Que tal testar seus conhecimentos selecionando algumas dessas expressões:

 

1 – “Está surdo/cego?”

2 – “Dar uma de João sem braço”

3 – “Não temos pernas/braços para realizar esse projeto?”

4 – “Não quero ouvir um pio”

 

Se selecionou as três primeiras, você acertou!

Para aprender mais sobre expressões capacitistas, separamos esse vídeo da youtuber e influenciadora @marianatorquato do seu canal @vaiumamãozinha. (https://www.youtube.com/watch?v=iTLBZkzqtpk

 

Fonte: ONU (símbolo oficial de inclusão)

 

Para refletir (responda nos comentários): Agora conta para a gente, você conhece outras expressões usadas no dia-a-dia que são capacitistas? Pelo que elas poderiam ser substituídas?

 

Texto: Clara Baptista, doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Educação e pesquisadora do Labdec

 

Fontes/Para saber mais:

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Resumo Técnico Censo Escolar da Educação Básica 2021, 2022. Disponível em: <https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/estatisticas_e_indicadores/resumo_tecnico_censo_escolar_2021.pdf>. Acesso em 07 fev. 2022.

NUERNBERG, A. H. O Capacitismo, a Educação Especial e a Contribuição do Campo de Estudos sobre Deficiência para Educação Inclusiva. In: MACHADO, R; MANTOAN, M. T. E. (Org.). Educação e Inclusão: entendimento, proposições e práticas. Blumenau, 2020. p. 45 – 60.

 

Sugestões de materiais para pensar sobre capacitismo e inclusão:


Filmes

Intocáveis (França, 2011. Direção: Eric Toledano e Olivier Nakache) – onde encontrar: Prime Video, Globoplay

Extraordinário (Estados Unidos, 2017. Direção: Stephen Chbosky) – onde encontrar: Prime Video, Netflix

Como Estrelas na Terra (Índia, 2007. Direção: Aamir Khan e Amole Gupte) – onde encontrar: Netflix

 

Séries

The Good Doctor – onde encontrar: Globoplay

Iniciada em 2017, a série tem, como protagonista, o médico Shaun Murphy, residente de cirurgia em um grande hospital. O rapaz, que tem um talento incomum para diagnósticos, tem também autismo e síndrome de Savant, e é desafiado diariamente pelas situações que vive na vida profissional e pessoal.

 

Atypical – onde encontrar: Netflix

“Quando um adolescente com traços de autismo resolve arrumar uma namorada, sua busca por independência coloca a família toda em uma aventura de autodescoberta.”

 

Amor no Espectro – onde encontrar: Netflix

A série nos apresenta a jovens autistas em busca do amor, com o objetivo de inspirar e conscientizar o público ao mostrar histórias reais.

 

Canais

@vaiumamãozinha (https://www.youtube.com/@VAIUMAMAOZINHAAI)

@inclusãonaprática(https://www.youtube.com/channel/UCal_jADl6zGBkvlqnFZMfTQ)


 

Ciência, tecnologia, sociedade e solidariedade

  Nos anos 1960/70, o campo do conhecimento Ciência, Tecnologia e Sociedade começou a se delinear e foi se consolidando ao longo do tempo,...