segunda-feira, 17 de julho de 2023

O que você está fazendo aqui? A redescoberta centenária de uma planta com potencial bioinvasor no Rio de Janeiro

 

Prezados professores,

Gostaríamos de compartilhar uma importante descoberta científica que certamente vai despertar o seu interesse. Trata-se da ocorrência da espécie Kallstroemia tribuloides (Mart.) Steud. – popularmente conhecida como rabo-de-calango – no Rio de Janeiro. Essa planta, nativa da Caatinga, levanta questionamentos sobre uma possível invasão biológica em curso. No Brasil, já enfrentamos casos emblemáticos de espécies invasoras, como o javali (Sus scrofa), o mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei) e o coral-sol (Tubastraea spp.). Você já ouviu algo sobre elas?

Detalhe da flor da espécie Kallstroemia tribuloides (Mart.) Steud.

A ciência tem enfatizado a importância da identificação de espécies exóticas com potencial invasor antes que se espalhem pela paisagem em larga escala. Isso é fundamental para o sucesso do monitoramento e controle do processo de invasão biológica. De acordo com especialistas, as espécies não nativas são consideradas invasoras quando estabelecem populações autossuficientes, aumentam sua densidade populacional ao longo do tempo e se dispersam para longe de seu local de introdução. A invasão biológica pode causar impactos significativos nas comunidades nativas e no funcionamento dos ecossistemas, além de acarretar prejuízos socioeconômicos.

A K. tribuloides é encontrada em países da América do Sul, incluindo Argentina, Bolívia e Brasil. No Brasil, sua distribuição parece ser restrita ao Bioma Caatinga. Essa planta é adaptada a ambientes ensolarados, prefere solos arenosos e mostra-se oportunista em áreas degradadas. Pertencente à família Zygophyllaceae, a espécie compartilha adaptações morfológicas, anatômicas e fisiológicas para enfrentar condições extremas, como déficit hídrico, seca, insolação e altas temperaturas.

Em março de 2023, indivíduos de K. tribuloides foram identificados em Saquarema, Rio de Janeiro. É importante ressaltar que existem apenas dois registros anteriores da espécie fora da Região Nordeste: um no Espírito Santo (coletado em 1972) e outro no Rio de Janeiro (coletado em 1877), ainda no Período Imperial, da autoria do botânico Auguste François Marie Glaziou.

Ecossistema de restinga em Saquarema, Rio de Janeiro.

Essa descoberta oferece uma excelente oportunidade para que professores e alunos explorem a temática da biodiversidade, a adaptação das espécies a diferentes ambientes e os possíveis impactos da bioinvasão. Incentivamos vocês, educadores, a utilizarem esse exemplo como uma oportunidade de ensino, engajando os alunos em atividades práticas, como coletas e análises de espécies vegetais em seus respectivos ambientes.

Texto e fotos: Alex Iacone

Para refletir (Deixe a sua resposta nos comentários): E você, o que costuma fazer quando encontra uma espécie que nunca viu antes? Como podemos estimular a curiosidade e o olhar dos educandos para a biodiversidade?

Fontes/Para saber mais

Material botânico (exsicata) coletado em 1887 por Auguste François Marie Glaziou: https://science.mnhn.fr/institution/mnhn/collection/p/item/p03192077

Matéria da revista Ciência Hoje das Crianças sobre o coral-sol: https://chc.org.br/artigo/de-onde-voce-vem/ 

Reportagem do Jornal da USP sobre o tema Invasão Biológica: https://jornal.usp.br/atualidades/invasao-biologica-um-problema-crescente-que-coloca-especies-nativas-em-risco/ 

Site do Laboratório de Ecologia de Invasões Biológicas, Manejo e Conservação (LEIMAC) da Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil: https://leimac.sites.ufsc.br/ 

Materiais para sala de aula

Série sobre invasões biológicas (LEIMAC/UFSC): https://www.youtube.com/watch?v=b7Du6X--NIU

Experimentoteca - Prensa para flores e folhas (como fazer exsicatas para herbário): https://www.youtube.com/watch?v=reuCBWSlAEU

Gibi “A invasão do coral-sol”: https://www.brbio.org.br/wp-content/uploads/2019/02/GIBI-CoralSol-A5.pdf

Plataforma para registro e identificação da biodiversidade: https://www.inaturalist.org/

5 comentários:

  1. Esse tema gera importantes reflexões tanto no âmbito da pesquisa científica quanto nas atividades de sala de aula. Tive a oportunidade de desenvolver pesquisas sobre o tema no Parque Nacional da Tijuca e recomendo que leiam mais sobre o tema. Excelente postagem!!!!!

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  2. Esse tema é de fato muito interessante. Já tive a oportunidade de conversar com meus alunos sobre espécies invasoras, biopirataria... e uma espécie que gerou muita curiosidade por estar bem presente na comunidade é o caramujo africano.

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  3. Oi, Priscila e Marcelo! Que interessante! Priscila, vc gostaria de compartilhar com a gente por aqui como vc tratou o assunto do caramujo africano? Muito legal perceber que professora e alunos/as/es estão ligados/as/es no que se passa fora da sala de aula!

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  4. Marcelo, bom demais saber das suas pesquisas! É a academia caminhando junto com a sociedade.

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