segunda-feira, 4 de março de 2024

“É preciso estar atento/a e forte”: faltam 4 dias para o 8 de março

 

Prestes a celebrar o dia internacional da mulher, com os pés fincados no presente, olhamos para o passado e para o futuro, em busca de orientações. Quando nos voltamos para as origens desta data tão importante, ouvimos a voz de pesquisadoras como Isabel González, Eva Blay, Mary Garcia Castro, Samantha Lodi-Corrêa e Rita de Cássia Machado, que nos afirmam: o dia internacional da mulher foi proposto pela militante alemã Clara Zetkin em 1910, durante o II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas. Mas não havia, segundo Eva Blay, uma data precisa. A ideia de criar um dia voltado para reflexão e luta das mulheres é anterior ao incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist Company, nos Estados Unidos, que aconteceu em 1911.

Fazer, de 8 de março, o dia internacional da mulher foi uma construção histórica envolvendo vários países – e muitas lutas. “Certamente esta escolha não ocorreu em consequência do incêndio da Triangle, embora este fato tenha se somado à sucessão de enormes problemas das trabalhadoras em seus locais de trabalho, na vida sindical e nas perseguições decorrentes de justas reinvindicações”, afirma Eva Blay, em seu artigo sobre o tema.  


 

Segundo Mary Garcia Castro, Samantha Lodi-Corrêa e Rita de Cássia Machado, nessa data, em 1917, as russas foram às ruas, pediram e receberam apoio de outros setores da sociedade. O tzar renunciou e se iniciava, assim, segundo elas, a Revolução Russa. Fica, assim, mais evidente o protagonismo e a força das mulheres nas lutas políticas e em outros setores da sociedade. Da primeira década do século XX até 1975, quando o 8 de março foi proposto pela Organização das Nações Unidas, foi um longo caminho.

Mary Garcia Castro, Samantha Lodi-Corrêa e Rita de Cássia Machado afirmam, ainda, em artigo publicado em 2020: “o 8 de março (...) sofreu uma descaracterização quanto ao seu sentido histórico, sendo sequestrado pelo mercado, destituído de seu sentido de luta, por avanços libertários nas relações de gênero; por protestos (...) que se unificam no nível conjuntural, em uma luta por democracia.”

Resgatar as origens pode trazer surpresas, mas também mais inteireza. Afinal, nos encontramos, cada vez mais, com a nossa versão mais verdadeira.

 

Com os pés no presente e o coração no futuro

Tendo olhado as origens deste dia tão importante, podemos seguir em frente. No Brasil, entre as diversas pautas que marcam a existência feminina e pelas quais lutamos, a violência vem ganhando destaque nas mídias por sua frequência e pelos altos – e inaceitáveis – índices que tem alcançado. Os resultados da 10ª Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, publicados em 28 de fevereiro, nos interpelam a todos/as/es: 30% das mulheres declaram ter sofrido violência doméstica ou familiar provocada por homens, em maioria parceiros (52%) ou ex-parceiros (15%). E não para por aí: 68% das brasileiras têm amigas, familiares ou conhecidas que sofreram violência. Foram entrevistadas mais de 21 mil mulheres de 16 anos ou mais, em todo o território nacional. Quanto menor a renda, maior a chance de essas mulheres terem sofrido algum tipo de agressão.


 O Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em suas séries históricas, também traz dados alarmantes: de 2015 a 2022, no Brasil, o número feminicídios cresceu de 439 para 1.437, em um intervalo de tempo que sequer chegou a 10 anos. Se nos aprofundamos nas etnias ou no nível de renda destas mulheres, poderemos ver, com clareza, o que muitas de nós experimentam: ser preta, indígena, quilombola, e/ou contar com uma renda mensal insuficiente aprofunda, ainda mais, este quadro de violência. Sem falar na violência sofrida pelas mulheres trans, outro capítulo importantíssimo, que pretendemos abordar mais adiante por aqui. É nesta direção que queremos ir? Que tipo de sociedade estamos construindo? O que nós, como educadores/as, podemos fazer para reverter esse quadro?

 

A quatro dias do 8 de março – ou a qualquer momento –, nossas escolhas importam. Escolhas pessoais, como os tipos de relações que vivemos, escolhas profissionais, como os tipos de conteúdos que trabalhamos ou em que áreas atuamos, e escolhas políticas. Para quem vai o nosso voto? Em que projeto de sociedade queremos apostar? Que relações humanas queremos viver e construir, e em que ambientes? Que relações com o planeta queremos estabelecer? Cabe a nós decidir, mas também agir. O mundo tem pressa. Nós temos pressa. E você?

 

Texto: Fernanda Veneu

Imagens: Pixabay

#labdec #blogdec #8demarço

 

Sugestões de filmes para a sala de aula

 

As Sufragistas (2015)

Direção: Sarah Gavron

Com base em fatos reais, o filme aborda a luta das mulheres inglesas pelo voto.

Disponível para aluguel nas plataformas YouTube, Google Play, Apple TV e Amazon Prime.

 

Estrelas além do tempo (2016)

Direção: Theodore Melfi

A participação de três mulheres negras na corrida espacial estadunidense é o tema deste filme baseado em fatos. O racismo, o preconceito são também protagonistas nesta história.

Disponível em Disney +

 

What happened, Miss Simone? (2015)

Direção: Liz Garbus

Documentário sobre a vida e o trabalho da cantora e ativista Nina Simone, que sofreu muitos tipos de violência.

Disponível em Neflix

 

A cor púrpura (1985, 2023)

Direção: Steven Spielberg (1985), Blitz Bazawule (2023)

Superação é o mote deste filme, que ganhou um remake em 2023. A versão atual ainda está em cartaz nos cinemas.

Versão de 1985 disponível em HBO

 

Frida (2002)

Direção: Julie Taymor

A vida e a obra da artista Frida Kahlo são retratadas neste filme.

Disponível em Apple TV

 

A que horas ela volta? (2004)

A história de uma trabalhadora doméstica que, após se mudar para São Paulo em busca de melhores condições de vida para a família que deixou em sua cidade natal, recebe a visita da filha, que chega para se preparar para o vestibular e fica na casa dos patrões da mãe.

Disponível em Netflix, Globoplay, Amazon Prime e Apple TV.

Até o fechamento deste post, também era possível acessar o filme gratuitamente em: https://youtu.be/qFHhD_0u4ak?si=6j08CcTQ4icBMcch

 

Um comentário:

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