Seguimos com mulheres e meninas na ciência, com um viés diferente. O que têm a ver ciência e eleições? Muito mais do que imaginamos. Ainda mais se nos voltamos para o início do século passado no Brasil. Afinal, a aprovação do voto feminino, em 24 de fevereiro de 1932, teve grande influência da cientista brasileira Bertha Lutz. Se hoje em dia o eleitorado feminino é maioria no país, respondendo por mais de 82 milhões de pessoas, há 93 anos as mulheres sequer podiam votar.
A primeira graduação de Bertha foi em Ciências Naturais na Universidade de Sorbonne, em 1918. Lá, tomou contato pela primeira vez com os movimentos feministas. Este encontro influenciou tanto a vida da pesquisadora que a levou a buscar, no Brasil, maneiras de melhorar as condições de vida das mulheres, bem como companheiras/os de luta pela causa.
Ciência, educação e política: uma mulher à frente do próprio tempo
Paralelo a isto, seguia desenvolvendo sua carreira de pesquisadora. Prestou concurso para o Museu Nacional e passou, tornando-se, assim, a segunda mulher a integrar o serviço público brasileiro, ainda em 1918. O cargo? Secretária. Isso não a impediu de continuar suas pesquisas e sua luta por condições equânimes de trabalho e estudo para mulheres e meninas. Ao atuar como delegada do Museu no Congresso de Educação, em 1922, conseguiu que meninas pudessem estudar no externato do Colégio Pedro II.
Os contatos feitos durante o tempo em que viveu no exterior permaneciam ativos, o que levou Bertha a representar o Brasil na Assembleia Geral da Liga das Mulheres Eleitoras, nos Estados Unidos. Participou também de várias conferências internacionais da mulher (Roma, 1923; Berlim, 1929), entre outros eventos relacionados à causa. Sua influência se estendeu até a carta de fundação da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), incluindo a palavra “mulheres” no texto.
Para todas estas realizações, Bertha obteve uma segunda graduação: Direito, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1933. Afinal, era preciso ter os instrumentos adequados para buscar mudanças na sociedade brasileira. Ela chegou a atuar também como deputada estadual em São Paulo, após o falecimento do titular Cândido Pessoa. Aproveitou a oportunidade para lutar por mudanças nas leis que regulavam o trabalho das mulheres – com jornada de 13 horas –, a propor a criação do que atualmente conhecemos como licença-maternidade, além da isenção do serviço militar para as mulheres e a igualdade salarial.
Em ano de eleições, costumamos voltar nossa atenção para o futuro: o que os candidatos prometem, o país, a cidade que queremos, nossas aspirações e reivindicações. Isto é importante, mas não é tudo. O que nós, como professoras e cientistas, podemos fazer, além disto? A história de Bertha Lutz, um exemplo de mulher na ciência, na política e na educação, nos inspira a ir além de onde nossos pés alcançam e levar nossos/as alunos/as conosco. Vamos?
Texto: Fernanda Veneu
Imagens: Arquivo Nacional e Pixabay
Fontes/Para saber mais:
Biografia de Bertha Lutz:
https://www.bvsalutz.coc.fiocruz.br/html/pt/static/trajetoria/heranca/bertha.php
https://www12.senado.leg.br/noticias/entenda-o-assunto/bertha-lutz
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55108142
https://youtu.be/TFoBJSAZnCk?si=gD5fghZ3upH7Tcze
História do voto feminino:
https://www.tse.jus.br/servicos-eleitorais/glossario/termos/voto-da-mulher
Ano passado, na série Biólog@s que fizeram história, trouxemos um pouco mais sobre Bertha Lutz: https://www.instagram.com/p/CxWTRALvZqh/
Nenhum comentário:
Postar um comentário