sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Jogos Olímpicos Paris 2024: Desafios da sustentabilidade na Cidade da Luz

 

Os Jogos de Paris 2024 foram marcados por uma ambição extraordinária e um espetáculo sem igual, fazendo história não apenas pela intensidade das competições, mas também pela dedicação implacável à sustentabilidade e à igualdade de gênero. Pela primeira vez, esta edição assegurou uma participação feminina de 50%, representando um marco crucial na promoção da igualdade entre homens e mulheres no esporte. Além disso, o compromisso ambiental assumido foi notável. No entanto, a jornada não esteve isenta de desafios e algumas polêmicas.

Fonte: teriyamabelle.pages.dev

Segundo o Relatório de Sustentabilidade e Legado (l Relatório de Sustentabilidade e Legado - Paris 2024 (olympics.com), nesta edição dos jogos, a cidade de Paris se comprometeu em realizar as Olímpiadas com a maior proteção climática da história.  Além disso, usar 95% de instalações temporárias ou já existentes, reduzindo a necessidade de novas construções e, consequentemente, o impacto ambiental. Paris 2024, também prometeu que toda a energia utilizada durante os Jogos seria proveniente de fontes renováveis e que pelo menos 70% dos resíduos gerados serão reciclados ou reutilizados, estabelecendo novos padrões em termos de sustentabilidade.

No entanto, enquanto o governo francês é elogiado por seus avanços em sustentabilidade e igualdade, as contradições ambientais de Paris se tornam evidentes. Nota-se que embora o comitê organizador dos Jogos tenha se comprometido a reduzir, pela metade, o uso de plásticos descartáveis em comparação com Londres 2012, as garrafas de Coca-Cola, patrocinadora oficial, ainda são amplamente utilizadas. Nos locais dos eventos olímpicos, embalagens de Fanta, Sprite e Coca-Cola se acumularam por toda parte, com funcionários despejando o conteúdo dessas garrafas plásticas em copos reutilizáveis. Essa prática, no entanto, tem gerado críticas, pois contraria a promessa de realizar os Jogos Olímpicos mais sustentáveis da história(Paris-2024: patrocinadora dos Jogos é alvo de críticas por uso generalizado de plástico; entenda (globo.com).

Outro exemplo desta questão é o Rio Sena, cenário para as provas de triatlo, que tem enfrentado sérios problemas de qualidade da água. A poluição chegou a provocar o adiamento de uma prova, com atletas expressando preocupações sobre as condições da água e os riscos à saúde. Em uma tentativa de demonstrar a melhoria da qualidade antes dos Jogos, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, até se arriscou a mergulhar no rio, buscando provar que ele estava mais limpo. No entanto, a realidade mostrou-se mais complexa: com níveis elevados de coliformes fecais, a poluição superou os limites aceitáveis a apenas 35 dias das Olimpíadas. Saiba mais em: Poluição no rio Sena: por que limpeza bilionária do rio para Olimpíada virou motivo de ‘vergonha’ - BBC News Brasil

Fonte: Sven Hoppe/picture alliance via Getty Images

A situação no Rio Sena ganhou contornos ainda mais preocupantes quando a triatleta Belga Claire Michel foi hospitalizada após contrair a bactéria Escherichia coli, detectada depois de sua participação em uma prova preparatória para os Jogos Olímpicos de 2024. Esse incidente alarmante evidenciou os riscos à saúde que os atletas enfrentam devido à má qualidade da água. A gravidade da situação levou a Bélgica a tomar a decisão drástica de retirar sua participação na competição, levantando questões sérias sobre a preparação e segurança ambiental do evento. Esse episódio, além de destacar a vulnerabilidade dos atletas, trouxe à tona a necessidade urgente de ações mais rigorosas para garantir que o Rio Sena atenda aos padrões de qualidade, não apenas para os Jogos, mas para a saúde pública como um todo.

A Escherichia coli, popularmente conhecida como E. coli, é uma bactéria que faz parte da família Enterobacteriaceae. Trata-se de um organismo procarionte que habita normalmente o intestino de seres humanos e animais. Embora a maioria das cepas de E. coli sejam inofensivas e desempenhem um papel fundamental na digestão, algumas variedades podem causar infecções graves. Tais cepas patogênicas podem provocar desde diarreias leves
a quadros mais severos, como colite hemorrágica e síndrome hemolítico-urêmica, que podem acarretar a danos renais e falência múltipla de órgãos. A contaminação por essa bactéria ocorre principalmente através do consumo de água ou alimentos contaminados, e a infecção pode ser especialmente perigosa para crianças, idosos e pessoas com o sistema imunológico comprometido. Para saber mais sobre a E. coli, veja no link:  https://g1.globo.com/google/amp/saude/noticia/2024/08/06/bacteria-e-coli-conheca-o-germe-presente-no-rio-sena-que-fez-triatleta-adoecer-e-equipe-desistir-de-prova.ghtml

Diante desse contexto de degradação ambiental, como a poluição dos rios, o acúmulo de lixo nas ruas, e o incentivo ao consumismo, aliado ao uso excessivo de plásticos durante o evento, revela-se a complexidade dos desafios enfrentados. Essa realidade expõe as dificuldades de conciliar grandes promessas com ações práticas, destacando as tensões entre progresso e problemas ambientais profundamente enraizados na cidade.

E ainda, tais contradições evidenciam que ainda há um longo caminho a ser percorrido na conscientização, tanto dos organizadores do evento quanto da população, para assegurar a segurança e o bem-estar dos atletas, tanto os de hoje quanto os das futuras gerações. Além disso, é crucial proteger o planeta, não apenas durante as Olimpíadas, mas também no cotidiano, garantindo um legado sustentável para o presente e o futuro.

 

Autores: 

Mariana Vallis – Doutoranda do PPCTE e Pesquisadora LABDEC

Renan Garibaldi – Mestrando do PPCTE e Pesquisador LABDEC

Bruna Valle – Mestranda do PPCTE e Pesquisadora LABDEC


 


 

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